Pelas Ruas de Lisboa
3 Outubro, 2012
“Olha apenas para o mundo à tua volta de forma perspicaz e confia nas tuas próprias reações e convicções.”, Ansel Adams, EUA (1902-1984)
Cada workshop de fotografia de rua é uma caixinha de surpresas. Nunca sabemos o que nos espera, nunca sonhamos o que os nossos participantes são capazes. No final, os resultados surpreendem-nos sempre!
A fotografia permite-nos aprisionar um determinado instante de tempo num retângulo a duas dimensões. E na fotografia de rua, o que prendemos é toda uma vida! Talvez por isso seja uma disciplina tão apaixonante e ao mesmo tempo tão cheia de desafios. E estes desafios começam logo às primeiras horas da manhã quando ouvimos os nossos participantes dizer: “Eu gosto muito de fotografia de rua, mas não sei como chegar às pessoas…” É o receio da invasão da privacidade, a adrenalina do ato de roubar um retrato nem sempre consentido, o imponderável desafio de entrar na vida de um estranho.
O nosso objetivo é mostrar que a fotografia de rua pode ser mais fácil do que inicialmente se pensa. Que pode ser uma fonte de enorme diversão, de fotografias verdadeiramente únicas e também um motor de bonitos encontros. E para realizarmos esta tarefa começamos por apresentar uma sessão teórica onde se define o que é a fotografia de rua e onde se partilham as técnicas para a por em prática. Esta sessão serve também para mostrar a paixão que nutrimos pelo tema. Após esse mergulho na fotografia de rua costumamos partilhar conceitos relacionados com a técnica fotográfica. Mas como neste workshop todos os participantes eram “repetentes”, decidimos substituir a normal conversa sobre aberturas, velocidades e sensibilidades por uma de composição aplicada ao tema em questão. É a vantagem de prepararmos todos os workshops de forma única.
Depois do almoço estávamos todos prontos para abraçar a rua e viajamos até ao coração de Lisboa onde nos esperavam alguns milhares de pessoas. Era dia de manifestação e motivos para fotografar não iam faltar. Em jeito de brincadeira alguns participantes diziam “assim não vale, é fácil demais!”. Mas o objetivo não era disparar sobre tudo o que mexesse, embora isso fosse o mais apetecível, tal era a confusão instalada. O que se pretendia era registar as situações de vida real, quotidiana, vulgar, apaixonante, dentro de um evento que tinha tudo menos de vulgar e banal. Penso que o objetivo foi mais do que conseguido como podem comprovar as fotos aqui apresentadas.
Após algumas horas era tempo de voltar à sala de formação para ver a colheita do primeiro dia. Analisaram-se as fotos e comentaram-se com espírito crítico. O objetivo é corrigir o que pode ser corrigido para que no dia seguinte nada falhe. E é claro, admirar as grandes fotos que se fizeram até ali e que precisam de ser notadas. Por vezes, nascem ali obras de arte que os próprios fotógrafos descuraram à partida…
No dia seguinte voltamos a juntar os 6 magníficos, um número propositadamente baixo para tirar o máximo partido do workshop, e é tempo de voltar às ruas de Lisboa. Da Mouraria a Alfama, por becos e vielas, vai-se fotografando quem passa e quem está, na procura das emoções que fazem o dia a dia da cidade. Desta vez, sem manifes à mistura, os processos são necessariamente mais calmos e mais íntimos. As horas vão passando, conversa-se aqui e ali com quem encontramos no bairro e pedem-se retratos. Descobre-se que a fotografia de rua também tem muito de contacto verbal com as pessoas, partilhando experiências e um pouco da nossa vida com quem se encontra. E é o resultado destes fortuitos encontros que muitas vezes coloca na nossa memória a marca perene da humanidade.
Após um breve almoço é chegada a hora de nova sessão de análise fotográfica, desta vez complementada com uma sessão de edição em Adobe Lightroom e dicas para conversão a P&B usando o software da Adobe e o plugin da Nik chamado Silver Efex Pro.
No final de mais um workshop de nível intermédio fica uma vez mais a sensação de superação que notamos nos participantes. Mesmo com todas as dificuldades associadas a este estilo de fotografia tão peculiar, os resultados deixam-nos perplexos. Há momentos brilhantes registados de forma brilhante. E isso é para nós a melhor recompensa de uma paixão partilhada ao longo de dois vibrantes dias.
Os workshops de fotografia de rua voltam em 2013. O calendário ainda não está disponível mas deixamos desde já um conselho: quando sair apresse-se a marcar o seu lugar num deles, pois estamos certos que, tal como este, vão esgotar rapidamente. Até breve!