Pelas Ruas de Lisboa

Quando ela passa já toda a gente exclama,
É a mais linda flor do bairro de Alfama.
Poema a Ester Caldeira

Diz o povo que não há duas sem três, mas São Pedro decidiu quebrar a magia do ditado e espalhou sol e calor pela terceira data marcada para a realização do último workshop de fotografia de rua fotonature.

Tudo começou numa cinzenta quarta-feira de Abril, dia histórico número 25. A sessão teórica desenrola-se como habitualmente e entre técnica fotográfica e partilhas do que é estar a fotografar na rua, as horas vão passando. As horas e as normais dúvidas que este tipo de fotografia levanta: “Posso fotografar as pessoas na rua sem qualquer problema? É legal e lícito? Que lentes devo usar? Como posso passar despercebido…?”. A juntar a todas as questões estão também as confidências habituais: “Não sou capaz de andar na rua a tirar fotos a pessoas que não conheço… Eu gosto muito deste tipo de fotografia, tenho é receio da reação das pessoas!”. Tudo isto é normal e a tudo isto respondemos que na sessão prática todas essas dúvidas se vão dissipar.

Passado o almoço num dos espaços comerciais da zona, a única coisa que não se dissipou foi a densa massa de ar cinzenta que cobria Lisboa e a chuva que começou a cair enquanto retemperávamos o corpo para sessão da tarde.

Tomamos a decisão de adiar a sessão teórica para data a combinar. Entretanto, convidámos quem quisesse ficar para mostrar na prática a componente técnica que apresentámos na teórica. Ninguém quis ir para casa e numa zona abrigada resolvemos oferecer aos nossos participantes umas 3 horitas onde mostramos histogramas, se vislumbrou como controlar aberturas e velocidades e se aprendeu a controlar a câmara. O objetivo, como em todos os nossos workshops, é ser o fotografo a controlar a câmara – a fazer a fotografia – e não o contrário.

Nova data marcada para uma tarde em que São Pedro não quer que andemos a fotografar pelas ruas de Lisboa e finalmente à terceira é de vez. Tarde de sábado, dia 26 de Maio e passado um mês o sol finalmente decide brindar-nos com a sua radiosa presença.

Fotografia de Lina Fernandes

O grupo, por força de compromissos inadiáveis, reduz-se para metade e com 6 bravos participantes partimos à conquista da cidade de Lisboa. Primeira paragem: Largo Camões.

Quando o formador chega já todos andam de máquina na mão e, para grande surpresa, já muitos têm grandes fotos para mostrar. Há inclusive quem ande a praticar panning sem ainda ter tido contacto com a lição correspondente!

Fotografia de Silvana Carvalho

Descemos todos pela Bica e o primeiro contacto com as pessoas do bairro é feita. As crianças que por ali brincam, enquanto as sardinhas são assadas na tasca do lado, não resistem ao brilho das câmaras dos nossos fotógrafos e as primeiras interações acontecem. Como todos acabam por perceber no final da sessão, a conversa com as pessoas é fundamental na fotografia de rua e é também uma das vertentes que a torna tão especial: o contacto com as pessoas e o descobrir de coisas novas numa cidade que desconhecemos mais do que aquilo que imaginamos.

A viagem continua a em pleno Cais do Sodré e o povo afina gargantas para mais uma marcha de protesto contra as políticas daqueles que têm a dura tarefa de andar com este país para a frente. Têm eles e temos todos nós…

Fotografia de Pedro Leitão

Resolvemos avançar com o programa, uma vez que a “manif” ainda está por arrancar. Próxima paragem: Terreiro do Paço. Hora do panning! Com mais ou menos dificuldades todos apreendem esta técnica e todos descobrem que, afinal, movimento e fotografia não são de todo incompatíveis.

Hora de continuar e dirigimo-nos a Alfama, com obrigatória paragem às portas da Sé Catedral de Lisboa. É aqui que é suposto quebrar-mos o gelo e explicarmos as várias técnicas de abordar uma pessoa na rua, mas a esta altura já o grupo está “farto” de roubar fotos na rua a quem passa. Os receios da manhã de 25 de Abril já estão bem longe da alma dos nossos participantes.

Fotografia de Juvenália Dorotea

Após uma sessão rápida para capturar luz, sombras e movimento nas portas da sé, descemos para Alfama. E é no coração do mais genuíno bairro da capital que voltamos à conversa com Lisboa. O Senhor Conde de Alfama, o Meia-noite e a sua doce tia, os foliões que preparam as ruas para a festa maior que se aproxima e a grande Ester Caldeira: a todos eles prestámos homenagem através das nossas lentes, das nossas palavras, do nosso coração. Estamos certos que no fim do dia, para além das fotos, ficam as estórias que cada uma dessas pessoas trouxe à nossa presença. E é tudo isto a fotografia de rua…

Fotografia de Eunice Teixeira

Prestes a terminar o nosso workshop, está na hora do desafio final onde o grupo se divide em equipas e a cada um delas é entregue um tema para colocarem em prática tudo aquilo que aprenderam nas últimas 7 horas. Os resultados são recompensadores; tanto para os participantes que fizeram as fotos, como para a equipa fotonature que vê naquelas imagens a maior recompensa do esforço e dedicação que coloca em cada sessão.

Fotografia de Isabel Crispim

Foi apenas há uma semana e já estamos com saudades: dos participantes e de voltar às ruas de Lisboa. Aos participantes esperamos vê-los em breve numa qualquer outra sessão ao longo dos próximos tempos. Às ruas de Lisboa voltamos no final de Setembro para mais um promissor workshop de nível intermédio. Aproveitamos para dizer que está quase cheio…