Pelas Ruas de Lisboa
1 Junho, 2013
“As maravilhas do dia-a-dia são excitantes; nenhum realizador conseguiria criar o imprevisto que encontramos na rua..”, Robert Doisneau, França (1912-1994)
Fotografar o quotidiano e o passo mais ou menos apressado de quem passa está sempre na mente de qualquer fotografo de rua. E nos workshops de fotografia de rua da fotonature é isso mesmo que os nossos participantes anseiam quando partilham connosco, no início de cada workshop, as suas expetativas. O maior desafio passa também por colocar em prática esse mesmo objetivo, pois para a maior parte dos participantes o ato de fotografar pessoas estranhas cria sempre algum desconforto.
Para dissipar quase todas as dúvidas e estilhaçar qualquer receio que possa pairar sobre as cabeças dos nossos participantes, a sessão teórica da manhã de sábado serve sempre para dar algumas dicas de como abordar a fotografia de rua, esclarecer o que é e o que não é e, acima de tudo, para cativar quem ali está presente para o ato de fotografar as pessoas e a relação delas com o espaço público. Entre imagens de grandes mestres, vídeos na primeira pessoa e de fotógrafos em ação e muita informação preciosa, a sessão corre a bom ritmo e foge num ápice. As dúvidas vão ficando mais ou menos esclarecidas, mas a vontade de sair e ir lá para fora fotografar aumenta a cada minuto que passa. Passadas pouco mais de três horas estamos todos prontos para capturar a vida e o pulsar da capital portuguesa.
Após um rápido almoço, para não quebrar o ritmo, apanhamos o metro e passados uns minutos estamos em pleno Jardim do Príncipe Real. É tempo para esclarecer questões mais técnicas e de colocar os participantes em igualdade de circunstâncias no que à técnica fotográfica diz respeito. Os que melhor conhecem a sua máquina estão já “libertos” para fotografar e as primeiras pessoas começam a ser fotografadas, talvez ainda mais longe do que aquilo que eu gostava que estivessem. Mas aqui o objetivo ainda não é fotografar pessoas e por isso estas primeiras experiências servem para ganhar ritmo. E ritmo é o que não falta a este maravilhoso grupo de participantes!
Uma hora passa a correr e é tempo de rumar à zona das Amoreiras onde colocamos em prática duas técnicas importantes na fotografia de rua: o arrasto por movimento e o panning. Usamos o mural da avenida Conselheiro Fernando de Sousa e todos ficam com mais umas técnicas no seu arsenal fotográfico. É tempo de continuar e de fazer uma visita à zona do Marquês de Pombal e Parque Eduardo VII onde decorre a Feira do Livro.
Pessoas é o que não falta por aqui e é o sítio ideal para darmos início à componente prática do workshop propriamente dita. Objetivo: fotografar pessoas e a sua relação com o espaço publico. Mas fotografa-las de perto e com distâncias focais que não passem os 50mm. Difícil, diriam vocês… A adrenalina sobe, mas depois de uma ou duas horas de prática percebemos que afinal, a coisa não é assim tão difícil como se pensa. Basta seguir com atenção as dicas que o formador vai passando e tudo corre bem. Afinal, importante é lembrar que não estamos a fazer nada de mal e que esta é apenas a nossa maneira de mostrar o quanto gostamos das pessoas. A interação entre nós e as pessoas sucede-se e a máquina é apenas um instrumento para efetivar essa interação. Sucedem-se sorrisos cúmplices, olhares trocados, alguns espantos e muita simpatia. Conhecemos gatinhas simpáticas, heróis de histórias para pequenos e graúdos, pessoas conhecidas. Enfim, ninguém escapa aos olhares bem dispostos dos nossos bravos fotógrafos. O que é certo é que passadas umas horas todos já dizem que afinal, fotografar pessoas não é assim tão dificil quanto pensavam no início do dia.
Tempo de voltar à sala de formação para analisar as fotos obtidas. O resultado é bom e como dizia no início do dia, em jeito de ante-visão desta sessão, nalguns casos deveríamos ter fotografado mais perto das pessoas. Estou certo que no dia seguinte, esta situação iria ser corrigida. Ao visualizarmos o slideshow com as fotos do primeiro dia há um sentido de dever cumprido e os resultados estão à vista. Missão cumprida! Amanhã voltamos…
Domingo, 9 da manhã em ponto – para os pontuais -, e estamos prontos para um desafio mais dificil. Dão-se instruções individuais baseadas na análise do dia anterior e estamos todos prontos para fazer melhor do que no sábado. Vamos visitar a zona histórica da cidade e agora não há montes de pessoas na rua como na Feira do Livro, o que torna a coisa mais séria! Começamos a nossa viagem pelas estreitas escadinhas que sobem da Baixa para o Castelo e qualquer pessoa que passe é modelo para a câmara dos nossos fotógrafos. Ninguém escapa às nossas objetivas e agora todos estão pertíssimo. Vamos deambulando e fotografando até Alfama, onde as preparações para as festas da cidade estão ao rubro. Alfama é sempre um bairro muito especial e cheia de situações imprevisíveis para fotografar. As pessoas são verdadeiramente especiais, genuínas e sem papas na língua, o que tanto pode facilitar como dificultar o nosso trabalho. Há que prever a reação das pessoas e perceber como as abordar. É isto mesmo a fotografia de rua e no segundo dia a prática já nos ensina melhor o que esperar das pessoas e como as abraçar com a nossa câmara. Tudo corre otimamente e as fotos vão-se sucedendo a bom ritmo.
É quase meio dia e é tempo de regressar à baixa e depois à sala de formação. Mas antes disso, e como a fome aperta, tempo para descansar um pouco e retemperar energias. Afinal, já palmilhamos alguns kms pelas ruas de Lisboa. Nova sessão de análise e desta vez os resultados são bem melhores. Estamos todos mais perto das pessoas e os nossos participantes confirmam que hoje sim, estavam mais à vontade. A prática é amiga da perfeição e isso sente-se na fotografia de rua. É também tempo de editar algumas fotos a preto & branco e de mostrar como isso se faz. O preto & branco é muito associado à fotografia de rua e é importante saber editar as fotos de forma correta. Descobre-se que os resultados que se podem conseguir vão bem mais além do que conseguimos ao capturar as imagens a P&B diretamente na máquina.
São 16h e está quase a terminar o workshop. Tempo para uma última apresentação das fotos e de congratular todos pelos resultados que são verdadeiramente fabulosos. Da minha parte, agradeço a todos o seu fantástico espírito no workshop e a vontade que têm em querer sempre fotografar mais e melhor. Num género de fotografia nada fácil, mas apaixonante, este workshop foi sem dúvida mais um existo e um dos pontos altos do ano 2013 para a fotonature. A todos os que estiveram presentes o nosso muito obrigado!
Os workshops de fotografia de rua voltam em breve. Consulte tudo aqui. Até sempre!