Grutas e Serra de Aire
21 Março, 2013
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros ocupa um lugar muito especial no meu coração. Cada pedra daquele gigante berço de calcário tem direito a contar uma história sobre a minha passagem e poucos serão os locais que ainda não fotografei. Impossível foi, portanto, esconder dos 14 magníficos que partilharam com a fotonature mais um workshop em terras de Aire o quão entusiasmado eu estava no passado fim de semana.
O sábado amanhecera cinzento. À entrada da Serra, na chegada a Minde, o sol espreitava a medo e cedo se adivinhava que não estava disposto a mostrar-se muito nesse dia.
São 9h30 e, enquanto já no auditório das Grutas de Mira de Aire se preparam os suportes multimédia para a sessão teórica, os participantes vão chegando. Vêm de perto e de bem longe, de Casével a Lisboa, de Leiria à Figueira da Foz, de Guimarães à margem sul do Tejo. Inscritos todos com nível Intermédio, o workshop prometia.
Alterada a sessão teórica para fazer face ao nível mais elevado dos participantes, a sessão começa pela minha mão até bem perto das 13 horas. Após a apresentação de temas ligados à fotografia de paisagem natural, na sua componente mais avançada, chega a hora de passar a palavra ao Miguel Claro para a componente teórica de Astrofotografia. Já ali se percebe que é um tema que cativa muitos dos participantes.
Chega o final da sessão teórica e é tempo para fazer check-in no simpático empreendimento turístico das Grutas, com as suas bonitas casas de madeira bem enquadradas na paisagem. Rapidamente se arrumam as coisas, pois a fome aperta e a vontade de começar a fotografar também.
Rumamos a Alcanena e chegamos à nascente do Alviela onde há tempo para um rápido picnic. E enquanto o simpático grupo de Leiria “luta” contra uma bela garrafa de tinto, outros descobrem o prazer da carne seca africana. Há lugar para o primeiro convívio.
Fome saciada e é tempo de calçar pela primeira vez as galochas, acessório obrigatório neste workshop. A primeira paragem seriam as grutas e gargantas da ribeira dos Amiais. A chuva ameaça e obriga o grupo a uma paragem de alguns minutos, mas depressa abranda para nos deixar fotografar. O terreno está perigoso e alguns mais descuidados resolvem tomar o sabor da temperatura da água. “Não está nada má, dizem alguns”. É mesmo preciso muito cuidado… As fotos vão se fazendo a ritmo mais ou menos acelerado e o tempo voa num ápice. Passam 2 horas, mas todos sentem que passaram apenas 10 minutos. É tempo de deixar o local, mas há sempre um grupo a querer resistir… No final, ficam as memórias possíveis num local que vai deixar muita saudade.
Próximo destino: Chão das Pias, no topo da Fórnea. Largam-se os carros à beira da estrada e sobe-se a pé pelo pequeno trilho que nos leva à margem do mais fantástico anfiteatro natural do país. A visão de quem chega pela primeira vez aquele local é inesquecível e espero que pelo menos tenha valido a pena por essa experiência. Em termos fotográficos, a falta de luz que se sentiu ao por do sol, influenciou um pouco a parcimónia dos nossos participantes. Fica a visão de um local que é preciso revisitar noutras condições climatéricas.
Tempo de voltar às Grutas para um jantar convívio que todos merecem. Uns mais do que outros, é claro, pois entre escorregadelas, costas doridas, pernas cansadas, há muito para recuperar. Afinal, estava programado uma sessão de astrofotografia para a noite.
O jantar é sempre tempo de convívio, de partilha de experiências, de descobertas e muita conversa. É por isso um dos pontos de passagem habituais dos nossos workshops que fazemos questão que todos tomem parte. Ah, e a comida também estava excelente. E desta vez, todos puderam “lutar” contra o divino néctar…
Infelizmente a sessão noturna tem de ser cancelada devido à predominância de nuvens no céu pintado de cinzento escuro. O workshop de Dia e Noite terá mesmo de passar para apenas Dia. Dia esse que começa no domingo bem cedo.
Relógios a despertar às 6h15 e o cantar de galo ouve-se em terras de Mira de Aire. Enquanto esperamos no parque de estacionamento por todos aqueles que, com coragem, deixaram o aconchego da cama, o nevoeiro desce sobre as nossas cabeças e obriga-nos, uma vez mais, a mudança de planos. O Polje, no sopé da Serra de Santo António, terá de ficar para outras núpcias…
Decidimos subir até ao topo da Serra para ver se conseguimos acalmar o cinzento das nuvens, mas não conseguimos. Como na fotonature, o lema é nunca desistir, aproveitamos o melhor que a natureza nos dá e decidimos fotografar a zona dos campos de lapiás através do nevoeiro, usando as oliveiras que brotam da pedra da calçada como os personagens principais.
O grupo dispersa-se e as imagens sucedem-se a bom ritmo. Com um grupo de participantes, lembro-me de partir à procura de lajes de pedra com formas engraçadas e árvores com carácter. Encontramos várias e à medida que caminhamos, corpo e alma vão libertando o que de menos bom têm acumulados após dias de “stress” citadino. Na Serra, o frio, o vento e a chuva miudinha, tudo libertam, na mais perfeita sintonia com a natureza. O sol decide fazer a sua aparição durante breves miúdos e que nem uns loucos corremos encosta abaixo em direção ao vale da Canada para registar a luz que pinta a paisagem. Fabuloso exercício matinal!
O resto do grupo aguarda-nos e por isso decidimos voltar. Está na hora do pequeno almoço e da descida ao centro da terra!
Aquecido de novo o espírito e alma no restaurante das grutas está na hora de deixarmos a superfície terrena para nos embrenharmos nas mais fabulosas caves naturais de Portugal. As lentes embaciam-se de emoção e os 14 magníficos, comigo e com o Miguel, entrão sozinhos num mundo mágico que só entende quem visita as maiores grutas de Portugal e uma das 7 maravilhas naturais de Portugal.
Passadas três horas (sim, leu bem, três horas) estamos no elevador que faz os 110 metros em poucos segundos e que nos leva de volta à superfície. É tempo de estrear o vídeo-testemunho e em jeito de brincadeira partilham-se palavras de agrado e algumas piadas a São Pedro por causa do tempo… As fotos, essas, serão analisadas já de seguida.
Tempo para o almoço e convívio finais. Enquanto todos comem, eu vou percorrendo os cartões de memória de cada participante e vou conversando individualmente com cada um sobre os resultados. O objetivo é perceber o que resultou e o que nem por isso e escolher uma ou duas fotos para partilharmos com os restantes. As minhas expectativas eram altas e ao ver as fotos fiquei realmente siderado. Os resultados eram fantásticos! Mesmo em bruto – resisti à tentação de as editar todas! – as fotografias feitas pelos 14 participantes eram de uma qualidade bastante elevada a provar, mesmo com o clima a estar longe do ideal, que se podem fazer grandes imagens assim exista criatividade, técnica e visão apurada. E isso não faltou neste workshop.
E foi num clima de grande descontração, cumplicidade e recompensa que todos vimos o slideshow final, de grandes fotos, registadas em RAW… ou JPG. 🙂
No final, o sol decidiu aparecer para levar para casa todos os participantes em segurança. E ao fazer também o meu caminho para casa senti o meu amor pela serra crescer mais um pouco. Aos 15 (mais o Nuno Luís que nos ajudou no primeiro dia) que me acompanharam neste fim de semana o meu obrigado. Vocês dão sentido à fotonature e a tudo aquilo que fazemos. Até breve!
Uma palavra especial para toda a equipa das Grutas de Mira de Aire, em especial ao seu responsável Carlos Alberto. Como sempre, foram inexcedíveis na simpatia e no apoio com que sempre acolhem este nosso evento conjunto. Já estamos com saudades para voltar…
Os workshops de paisagem natural voltam já nos próximos dias 11 e 12 de Maio na Costa Vicentina. Rume connosco a sul! Para quem quer provar o sabor da noite que nos faltou em Mira de Aire, sugerimos a inscrição no workshop de astrofotografia em Almada no próximo dia 13 de Abril com o Miguel Claro.