Grutas e Serra de Aire

21 Março, 2013

O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros ocupa um lugar muito especial no meu coração. Cada pedra daquele gigante berço de calcário tem direito a contar uma história sobre a minha passagem e poucos serão os locais que ainda não fotografei. Impossível foi, portanto, esconder dos 14 magníficos que partilharam com a fotonature mais um workshop em terras de Aire o quão entusiasmado eu estava no passado fim de semana.

Fotografia de António Kool
Fotografia de António Kool

O sábado amanhecera cinzento. À entrada da Serra, na chegada a Minde, o sol espreitava a medo e cedo se adivinhava que não estava disposto a mostrar-se muito nesse dia.

São 9h30 e, enquanto já no auditório das Grutas de Mira de Aire se preparam os suportes multimédia para a sessão teórica, os participantes vão chegando. Vêm de perto e de bem longe, de Casével a Lisboa, de Leiria à Figueira da Foz, de Guimarães à margem sul do Tejo. Inscritos todos com nível Intermédio, o workshop prometia.

Fotografia de João Bexiga
Fotografia de João Bexiga

Alterada a sessão teórica para fazer face ao nível mais elevado dos participantes, a sessão começa pela minha mão até bem perto das 13 horas. Após a apresentação de temas ligados à fotografia de paisagem natural, na sua componente mais avançada, chega a hora de passar a palavra ao Miguel Claro para a componente teórica de Astrofotografia. Já ali se percebe que é um tema que cativa muitos dos participantes.

Chega o final da sessão teórica e é tempo para fazer check-in no simpático empreendimento turístico das Grutas, com as suas bonitas casas de madeira bem enquadradas na paisagem. Rapidamente se arrumam as coisas, pois a fome aperta e a vontade de começar a fotografar também.

Pedro Monteiro
Fotografia de Pedro Monteiro

Rumamos a Alcanena e chegamos à nascente do Alviela onde há tempo para um rápido picnic. E enquanto o simpático grupo de Leiria “luta” contra uma bela garrafa de tinto, outros descobrem o prazer da carne seca africana. Há lugar para o primeiro convívio.

Fome saciada e é tempo de calçar pela primeira vez as galochas, acessório obrigatório neste workshop. A primeira paragem seriam as grutas e gargantas da ribeira dos Amiais. A chuva ameaça e obriga o grupo a uma paragem de alguns minutos, mas depressa abranda para nos deixar fotografar. O terreno está perigoso e alguns mais descuidados resolvem tomar o sabor da temperatura da água. “Não está nada má, dizem alguns”. É mesmo preciso muito cuidado… As fotos vão se fazendo a ritmo mais ou menos acelerado e o tempo voa num ápice. Passam 2 horas, mas todos sentem que passaram apenas 10 minutos. É tempo de deixar o local, mas há sempre um grupo a querer resistir… No final, ficam as memórias possíveis num local que vai deixar muita saudade.

Fotografia de Francisco Machado
Fotografia de Francisco Machado

Próximo destino: Chão das Pias, no topo da Fórnea. Largam-se os carros à beira da estrada e sobe-se a pé pelo pequeno trilho que nos leva à margem do mais fantástico anfiteatro natural do país. A visão de quem chega pela primeira vez aquele local é inesquecível e espero que pelo menos tenha valido a pena por essa experiência. Em termos fotográficos, a falta de luz que se sentiu ao por do sol, influenciou um pouco a parcimónia dos nossos participantes. Fica a visão de um local que é preciso revisitar noutras condições climatéricas.

Fotografia de Cristiano Justino
Fotografia de Cristiano Justino

Tempo de voltar às Grutas para um jantar convívio que todos merecem. Uns mais do que outros, é claro, pois entre escorregadelas, costas doridas, pernas cansadas, há muito para recuperar. Afinal, estava programado uma sessão de astrofotografia para a noite.

O jantar é sempre tempo de convívio, de partilha de experiências, de descobertas e muita conversa. É por isso um dos pontos de passagem habituais dos nossos workshops que fazemos questão que todos tomem parte. Ah, e a comida também estava excelente. E desta vez, todos puderam “lutar” contra o divino néctar…

Infelizmente a sessão noturna tem de ser cancelada devido à predominância de nuvens no céu pintado de cinzento escuro. O workshop de Dia e Noite terá mesmo de passar para apenas Dia. Dia esse que começa no domingo bem cedo.

Fotografia de Jeni Franco
Fotografia de Jeni Franco

Relógios a despertar às 6h15 e o cantar de galo ouve-se em terras de Mira de Aire. Enquanto esperamos no parque de estacionamento por todos aqueles que, com coragem, deixaram o aconchego da cama, o nevoeiro desce sobre as nossas cabeças e obriga-nos, uma vez mais, a mudança de planos. O Polje, no sopé da Serra de Santo António, terá de ficar para outras núpcias…

Decidimos subir até ao topo da Serra para ver se conseguimos acalmar o cinzento das nuvens, mas não conseguimos. Como na fotonature, o lema é nunca desistir, aproveitamos o melhor que a natureza nos dá e decidimos fotografar a zona dos campos de lapiás através do nevoeiro, usando as oliveiras que brotam da pedra da calçada como os personagens principais.

Fotografia de Rui Figueiredo
Fotografia de Rui Figueiredo

O grupo dispersa-se e as imagens sucedem-se a bom ritmo. Com um grupo de participantes, lembro-me de partir à procura de lajes de pedra com formas engraçadas e árvores com carácter. Encontramos várias e à medida que caminhamos, corpo e alma vão libertando o que de menos bom têm acumulados após dias de “stress” citadino. Na Serra, o frio, o vento e a chuva miudinha, tudo libertam, na mais perfeita sintonia com a natureza. O sol decide fazer a sua aparição durante breves miúdos e que nem uns loucos corremos encosta abaixo em direção ao vale da Canada para registar a luz que pinta a paisagem. Fabuloso exercício matinal!

Fotografia de Maria Duarte
Fotografia de Maria Duarte

O resto do grupo aguarda-nos e por isso decidimos voltar. Está na hora do pequeno almoço e da descida ao centro da terra!

Aquecido de novo o espírito e alma no restaurante das grutas está na hora de deixarmos a superfície terrena para nos embrenharmos nas mais fabulosas caves naturais de Portugal. As lentes embaciam-se de emoção e os 14 magníficos, comigo e com o Miguel, entrão sozinhos num mundo mágico que só entende quem visita as maiores grutas de Portugal e uma das 7 maravilhas naturais de Portugal.

Fotografia de Rui Melo
Fotografia de Rui Melo

Passadas três horas (sim, leu bem, três horas) estamos no elevador que faz os 110 metros em poucos segundos e que nos leva de volta à superfície. É tempo de estrear o vídeo-testemunho e em jeito de brincadeira partilham-se palavras de agrado e algumas piadas a São Pedro por causa do tempo… As fotos, essas, serão analisadas já de seguida.

Fotografia de Fernando Matias
Fotografia de Fernando Matias

Tempo para o almoço e convívio finais. Enquanto todos comem, eu vou percorrendo os cartões de memória de cada participante e vou conversando individualmente com cada um sobre os resultados. O objetivo é perceber o que resultou e o que nem por isso e escolher uma ou duas fotos para partilharmos com os restantes. As minhas expectativas eram altas e ao ver as fotos fiquei realmente siderado. Os resultados eram fantásticos! Mesmo em bruto – resisti à tentação de as editar todas! – as fotografias feitas pelos 14 participantes eram de uma qualidade bastante elevada a provar, mesmo com o clima a estar longe do ideal, que se podem fazer grandes imagens assim exista criatividade, técnica e visão apurada. E isso não faltou neste workshop.

E foi num clima de grande descontração, cumplicidade e recompensa que todos vimos o slideshow final, de grandes fotos, registadas em RAW… ou JPG. 🙂

Fotografias de Ritabela Santos e Jorge Rosa
Fotografias de Ritabela Santos e Jorge Rosa

No final, o sol decidiu aparecer para levar para casa todos os participantes em segurança. E ao fazer também o meu caminho para casa senti o meu amor pela serra crescer mais um pouco. Aos 15 (mais o Nuno Luís que nos ajudou no primeiro dia) que me acompanharam neste fim de semana o meu obrigado. Vocês dão sentido à fotonature e a tudo aquilo que fazemos. Até breve!

Fotografias de Pedro Moreno e João Ferreira
Fotografias de Pedro Moreno e João Ferreira

Uma palavra especial para toda a equipa das Grutas de Mira de Aire, em especial ao seu responsável Carlos Alberto. Como sempre, foram inexcedíveis na simpatia e no apoio com que sempre acolhem este nosso evento conjunto. Já estamos com saudades para voltar…

Mais fotografias dos participantes e video-testemunho

Os workshops de paisagem natural voltam já nos próximos dias 11 e 12 de Maio na Costa Vicentina. Rume connosco a sul! Para quem quer provar o sabor da noite que nos faltou em Mira de Aire, sugerimos a inscrição no workshop de astrofotografia em Almada no próximo dia 13 de Abril com o Miguel Claro.

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