Workshop Grutas e Serra de Aire

1 Fevereiro, 2012

“O melhor fica sempre para o fim”, costuma apregoar o povo… Mas nós na fotonature gostamos de ser diferentes e decidimos marcar o início do ano de uma forma única e inesquecível. Para isso, inscrevemos como primeiro workshop de paisagem natural do ano uma experiência verdadeiramente memorável em terras do Parque Natural das serras de Aire e Candeeiros.
Por entre grutas e secretos algares, dolinas de cortar a respiração, poljes e canhões cársicos inundados e campos de lapiás, percorremos com os nossos participantes paisagens de sonho que têm tanto de fascinante, como de surpreendente. No fim do par de dias que durou o workshop era comum ouvir alguém dizer “obrigado por nos terem trazido até aqui… não fazia ideia de que isto existia em Portugal” ou “vou ter de cá voltar e trazer mais alguém”…

Tudo começou como habitualmente num sábado de manhã. Ao contrário do ano passado, São Pedro fez questão de trocar a chuva com que batizou o segundo workshop de 2011, com um sol radioso que se prolongou pelos dois dias deste segundo workshop de 2012. O auditório das Grutas de Mira de Aire abriu-nos as portas para a sessão teórica e com a vontade e simpatia que sempre caracteriza os nossos participantes lá demos início a uma experiência que irá ficar certamente marcada na memória de quem connosco privou neste fim-de-semana frio de Janeiro.

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A presença dos dois formadores possibilita, como habitualmente, que os repetentes saltem a sessão teórica e enquanto o Nuno apresentava os conceitos fundamentais da fotografia aos recém-chegados à família fotonature, o Luís descia com os restantes até ao meio do Polje de Mira de Aire para as primeiras fotos do dia. Os lagoachos permanentes do Polje foram as estrelas de serviço e os nossos participantes os atores principais. Recordaram-se conceitos, afinaram-se as definições corretas a usar quando se fotografa paisagem, verificaram-se histogramas e estudaram-se composições. E ali mesmo, nos primeiros minutos do workshop, a aprendizagem e a partilha começaram.

O Polje sob a lente de Hélder Coelho

O Polje sob a lente de Hélder Coelho

Um par de horas mais tarde e é hora de juntar todo o grupo e rumar ao destino do almoço. Faz-se uma alteração no programa consentida por todos e aproveitando um grupo mais reduzido que o normal decidimos surpreender toda a gente com a visita a um lugar verdadeiramente mágico: a nascente do Rio Alviela. Após algumas dentadas na comida que todos trouxeram de casa para retemperar energias, troca-se o picnic pela caminhada e a descoberta começa. A partir daqui estamos todos embrenhados na magia de um parque natural único em Portugal e desconhecido da grande maioria das pessoas. O fato de termos estado sozinhos durante todo o fim-de-semana em todos os locais que percorremos é prova disso mesmo.

Detalhe geológico por Susana Pires

Detalhe geológico por Susana Pires

Munidos de galochas, é hora de saltarmos para dentro de água e visitar grutas, canhões e outros monumentos geológicos de rara beleza. O local não é amplo, ouve-se muitas vezes dizer “estás à minha frente” ou “eu espero…”, mas todos conseguem fazer as suas fotos. Quando soa a campainha para voltar e para rumar a novo destino ninguém parece acreditar que já passaram algumas horas desde que ali chegamos. “Espetacular!” ouve-se dizer.

À entrada da gruta por Carlos Pinto

O canhão cársico do Alviela por Jorge Valério

Fotografias feitas durante o workshop por Carlos Pinto e Jorge Valério

É hora de voltar aos carros e de voltar ao Polje. Para uns é um retorno, para os que estiveram na teórica é uma primeira visita. Ainda assim, os locais mudam-se e novos enquadramentos são possíveis. Dali até ao descer da noite é um pulinho. Testam-se filtros de densidade neutra em gradiente e descobre-se a magia das exposições mais ou menos longas. A luz escasseia, mas a câmara fotográfica continua a “ver”, o que é sempre significado de novas descobertas.

O Polje, desta vez sob a lente de Jorge Valério

O Polje, desta vez sob a lente de Jorge Valério

Tempo de voltar ao auditório das Grutas de Mira de Aire para novas revelações. Desta vez, partilhadas por cada um dos participantes. É hora da sessão de análise fotográfica e à medida que os formadores vão comentando as fotos, mostrando o que funcionou e o que podia ser melhorado, vão-se ouvindo os primeiros “excelentes” e vendo as primeiras bocas abertas. Não de sono ou fome, mas sim de espanto. Nesta sessão em que todos são convidados a interagir, as fotos são de todos e não são de ninguém, e só quando os formadores anunciam os autores das fotos os parabéns se sucedem. No final, todos percebem que afinal, fazer uma grande foto, está mesmo ao alcance de qualquer um. Com paixão e um adequado acompanhamento, tudo se consegue!

Duas horas depois é tempo de jantar e de convívio entre todos. E também de combinar o ponto de encontro do dia seguinte. As coordenadas GPS estão no programa e a hora confirmada: 7h15 da manhã.

E é a essa hora e no local correto que todos se encontram num domingo solarengo. Deixados os carros à beira da estrada é tempo de subir à dolina mais famosa de Portugal: a Fórnea. O caminho, sempre a subir, pode ser mais ou menos extenuante, mas a visão que se alcança quando estamos quase a chegar ao topo é inolvidável. Até o Luís que repetidas vezes já subiu esse caminho continua a ficar deslumbrado no passo final até ao topo da Fórnea.

O sol está prestes a nascer e a iluminar o topo da montanha. E quando isso acontece, os tons quentes do nascer do sol transformam por completo a paisagem e, durante uns breves minutos, o Photoshop que muitas vezes é apontado por quem olha fotografias de paisagem como o elemento chave da qualidade das mesmas é substituído pela mãe natureza em todo o seu esplendor. Afinal, basta estar acordado no momento certo e à hora certa para perceber que o software da Adobe nada pode fazer contra a beleza pura do elemento natural.

Fotografia feita durante o workshop por Augusto Fernandes

Fotografia feita durante o workshop por Augusto Fernandes

É tempo ainda de fazer uma nova alteração ao programa e de levar os participantes a um destino extra. No campo de lapiaz perto de Telhados Grandes a força da pedra inspira de novo os nossos participantes a mostrarem o que têm de melhor: paixão pela fotografia e pela natureza. Descobrem-se novos efeitos e partilham-se novas experiências.

Finalmente, e a fazer jus ao que diz o povo (eh! eh!), guardamos mesmo o melhor para o fim. São 10 da manhã e está na hora de descer aos 110 metros de profundidade para fotografar um dos locais mais surpreendentes do país. Depois de um café prometido na véspera, largam-se os casacos quentes e entra-se na gruta. Afinal, ali dentro estão quase 20 graus e uma humidade relativa de muitos por cento.

No interior das grutas. Detalhe por Elsa Figueiredo

No interior das grutas. Detalhe por Elsa Figueiredo

O que se passou nas próximas três horas e tal – sim, leu bem – é para guardar na memória de quem lá esteve. É impossível colocar em palavras a beleza do local e as sensações fotográficas, entre outras, que o grupo ali viveu. Queríamos apenas partilhar que, estar naquele local, em profundo silêncio, sozinhos, com todo o tempo do mundo e com o equipamento adequado para registar o local no seu máximo esplendor não é certamente para todos e raramente se poderá repetir fora do contexto em que os participantes ali estiveram. Como dizia um dos participantes durante essa final de sessão, é realmente um privilégio estarmos aqui, sozinhos, no meio deste local tão especial.

Grutas de Mira de Aire por Augusto Fernandes

Grutas de Mira de Aire por Augusto Fernandes

São 14h e é tempo de finalizar o workshop. Estamos cansados, mas bem vivos no coração e na alma. Podíamos partilhar convosco as várias mensagens de feedback que nos enviaram, mas julgamos que seria um exercício desnecessário… Queremos apenas deixar um agradecimento profundo aos nossos participantes e à forma como acolheram este workshop tão especial para nós. Ficamos muito contentes por ter valido a pena. Como fizemos questão de dizer no início, se no final do workshop tivermos conseguido passar a nossa paixão pela fotografia e o nosso gosto pela beleza desde parque a sessão seria um sucesso.

Arriscamo-nos a dizer, desde já, que não temos dúvidas em considerar este um dos workshops do ano.

Queríamos deixar um agradecimento especial ao Sr. Carlos Alberto e a toda a equipa das Grutas de Mira de Aire. Sem o seu apoio, este workshop não poderia existir. Como sempre, foram incansáveis antes, durante e após o workshop. O nosso muito muito obrigado.

A equipa fotonature vai voltar à Serra de Aire no segundo semestre de 2012. Fiquem atentos, pois é provável que estes mesmos participantes corram rápido para tomar todos os lugares disponíveis. A nossa aventura continua em Lisboa nos dias 11 e 12 de Fevereiro para um workshop de rua esgotado há já algum tempo e nos dias 25 e 26 para um workshop branco na Serra da Estrela (quase esgotado).

Até breve!

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