Passeio Fotográfico Piodão e Serra do Açor

10 Outubro, 2016

Por Nuno Luís

Foi no longínquo ano de 1987 que se iniciou em Portugal o programa de recuperação das chamadas aldeias históricas. Este desígnio, abrangia numa fase inicial 10 aldeias, entre elas a aldeia do Piódão. Localizada no coração da belíssima e misteriosa Serra do Açor, esta pequena aldeia é muitas vezes apelidada de “Presépio de Xisto”, dada a sua posição cenográfica e em forma de anfiteatro. Tinha chegado o momento de conferir essa fama almejada ao longo dos tempos.

Sobranceira, a igreja destaca-se do restante casario. O seu branco cândido sobressaí no meio da negritude, tão característica no xisto. É lá do alto da sua torre que se escutam dez badaladas do sino. Além do assinalar da hora, indica igualmente o início do passeio fotográfico Fotonature pelo Piódão e Serra do Açor.

Feitas as devidas apresentações, mergulhámos nas ruas estreitas e sinuosas da aldeia com o intuito de captar através das objetivas das câmaras fotográficas cada detalhe e pormenor que se encontra ao virar de cada esquina. À medida que íamos desvendando cada um dos seus recantos, vislumbra-se uma vista única sobre o Piódão e toda a sua área envolvente, começando a entender-se melhor o porquê do título de “Presépio de Xisto”.

Era hora de aconchegar o estômago, e foi no restaurante “Piódão XXI”, que degustámos algumas das especialidades gastronómicas da região. A chanfana e o cabrito no forno, iguarias típicas por estes lados, fizeram as delícias da maioria dos participantes. A doçaria não faltou, assim como os tão famosos e deliciosos licores que por aqui abundam em diversidade e qualidade.

Após o repasto, aguardava-nos a famosa Fraga da Pena, considerada uma das grandes mais-valias entre os recursos naturais da paisagem protegida da Serra do Açor. As águas límpidas e cristalinas desta cascata, que durante todo o ano jorram do alto dos seus 20 metros, provoca nas suas imediações uma micropaisagem verdejante e luxuriante. O medronho – um dos frutos mais característicos da região – e o azevinho conferem uma magia especial a este pequeno paraíso.

A Mata da Margaraça também foi digna de uma visita da nossa parte, ainda que as cores outonais marcassem uma presença muito ténue. São estas cores o grande ponto de interesse, do ponto de vista fotográfico, desta pequena mata nesta época do ano. Os melhores participantes do mundo não desanimaram e era tempo de fotografar pequenos detalhes que por ali se encontram ou fazer algo mais criativo. Foi aqui que o “zoom burst” foi o centro das atenções.

O avançar dos ponteiros do relógio é impiedoso e em boa hora regressámos ao “Presépio de Xisto”, entenda-se, Piódão. O objetivo era simples: poder estar à hora certa no sítio certo, por forma a chegar à aldeia antes que as luzes da mesma fossem acesas. Este é um dos momentos altos do passeio e nem a estrada sinuosa nos impediu de ir parando aqui e acolá, sempre na busca incessante pelo melhor ângulo fotográfico. O silêncio, que por aqui chega a ser ensurdecedor em certos momentos, apenas era interrompido pelo som do disparo das máquinas fotográficas. O inesquecível anfiteatro natural que é o Piódão, foi fotografado de forma apaixonada. Composições mais abertas ou mais fechadas, o objetivo foi cumprido: fotos lindas do famoso “Presépio de Xisto”. A fama das parecenças com um presépio estão agora diante dos nossos olhos!

Se as câmaras estavam pejadas de boas imagens, o estômago estava vazio e era hora de o aconchegar. E foi em clima de amena cavaqueira e boa disposição que termina o primeiro dia do passeio fotográfico. O merecido descanso estava já ali ao virar da esquina…

Era noite cerrada e poucas horas ainda tinham passado, e já era tempo de voltar a reunir os 15 magníficos. Lá no alto da torre da igreja, o sino não deixa passar este momento incólume, e ouvem-se 6 badaladas. À hora certa, os ainda ensonados fotógrafos, estavam ávidos de uma nova jornada fotográfica gloriosa. Começa de forma oficial o segundo dia do passeio fotográfico!

Estas primeiras horas da manhã seriam passadas a 1242 metros acima do nível do mar, onde iriamos ser contemplados com os primeiros raios de sol no Monte do Colcurinho, um dos pontos mais altos da Serra do Açor e que alberga a pequena capela da Nossa Senhora das Necessidades.

Até aqui, as teleobjetivas tinham sido meras espectadoras deste passeio, mas era chegado o momento de justificarem o porquê de serem indispensáveis na mochila de qualquer fotógrafo. À medida que o sol se eleva no horizonte, os motivos de interesse iam proporcionalmente aumentado assim como enumeras e infindáveis oportunidades fotográficas. Era hora de apelar a uma abordagem mais criativa e descortinar entre os vales verdejantes e os desníveis acentuados da cordilheira montanhosa, jogos de luz que dessem lugar a uma bela imagem.

O ocaso deste passeio iria dar-se na cinematográfica Foz d´Égua. Localizada na confluência das ribeiras da Chã com a do Piódão, a pequenez deste lugar, não reflete a sua beleza. É um local romântico e aprazível que mais parece ter sido construído para cenário de um qualquer filme de conto de fadas. Duas pontes em xisto são o principal cartão-de-visita do local, como que a abençoarem a junção das duas ribeiras. Infelizmente à hora que visitámos o local já o sol ia bem alto e a luz não era de todo a mais indicada para retratar tanta beleza, mas mais uma vez os melhores participantes do mundo encontraram outros motivos de interesse fotográfico.

A quem não conhecia esta zona do país, levantámos um pouco a ponta do véu sobre a beleza que a Serra do Açor teima em esconder. Nos seus recantos escondem-se muitos encantos…

Aos participantes deste passeio fotográfico fica o nosso eterno agradecimento. Se regressámos a casa fatigados pelo cansaço acumulado ao longo de dois dias bastante exigentes, por outro lado, sentíamos-mos gratos por termos dado um pequeno mergulho numa região imensamente bela.

Uma palavra igualmente de agradecimento para a Sra. Goreti Ribeiro, pela forma simpática e acolhedora como recebeu a maioria dos nossos participantes nesta aventura fotográfica na Casa da Padaria.

Fica a promessa: iremos regressar!